Investimentos Sustentáveis: Análise dos Fundos ESG

Por Tathiane Oliveira

As discussões sobre ESG (Environmental, Social, and Governance) têm se tornado cada vez mais relevantes. As preocupações atuais não se limitam à extração de recursos naturais finitos, mas também abrangem comportamentos éticos e valores econômicos. O ESG envolve questões ambientais, sociais e de governança, promovendo boas práticas de produção que consideram o impacto social e ambiental das decisões empresariais. Nesse contexto, surgem fundos de investimentos alinhados com a estratégia ESG, investindo em ativos que respeitam esses princípios.

Representatividade

Apesar de ainda representarem uma pequena parcela dos fundos da indústria, com apenas 0, 22% do total adotando a estratégia ESG, há 84 fundos ESG ativos no mercado. Entre eles, 40,51% são fundos de ações, 24,05% investem em renda fixa, 17,72% são multimercados ou previdência, conforme tabela 1. Embora a representatividade ainda seja baixa, esses fundos gerenciam um patrimônio de mais de R$ 20 bilhões, o que equivale a 0,27% da indústria total de fundos.

Nos últimos anos, houve aumento significativo no total de fundos ESG. Em 2019, a quantidade de fundos que se encaixavam nas exigências ESG era próximo de 20 fundos, enquanto em out/2024 já ultrapassa os 80 fundos. O forte crescimento pode sugerir que o mercado está cada vez mais atento às práticas ESG, e as diferentes classes de investimentos refletem estratégias planejadas. A predominância de ações e previdência pode demonstrar que os investidores estão interessados ​​em alinhar seus objetivos de longo prazo com práticas de sustentabilidade. Especificamente, o aumento em multimercados e renda fixa aponta para uma expansão do conceito ESG em diferentes produtos financeiros. O gráfico 2 apresenta a evolução na quantidade de fundos ESG, bem como o ingresso das classes ao longo dos períodos.

Patrimônio

A classe de fundos ESG renda fixa possui maior representatividade em termos de patrimônio, totalizando R$ 11,5 bilhões, seguida pelos fundos multimercados, que possuem patrimônio de R$ 4,1 bilhões. Embora os fundos de renda fixa não sejam os mais numerosos, destacam-se pelo valor do patrimônio que gerem. A tabela abaixo apresenta o patrimônio por classe. Cabe ressaltar que não há fundos cambiais com especificação ESG nos últimos 5 anos. O gráfico 1 ilustra a distribuição do patrimônio por classe dos fundos ESG ativos.

Gestoras

Há diferentes gestoras que possuem fundos ESG. O destaque está para o BB Gestão de Recursos que possui 11 fundos sob gestão, seguido do Banco Bradesco, com 10 fundos ESG. Em penúltimas colocações encontram-se 4 gestoras a Bradesco Vida e Previdência, a Schroder Investment, a Sicredi e o Rio Bravo Investimentos, todas com apenas 2 fundos ESG cada.

Por fim, há 11 gestoras que possuem apenas um fundo ESG sob gestão, são elas: Sul América Seguros e Previdência, a Warren Brasil, a Cg Investimentos, a Plural, a Itau, a Blackrock Brasil, a Xp Advisory, a Neo Equities, a Vox Capital, a Safra Asset e o Banco J Safra. O gráfico 3 apresenta o mapa de distribuição da quantidade de fundos ESG por gestora de recursos.

Em relação ao total de patrimônio sob gestão, as gestoras que se destacam são: Itaú Asset, BB Gestão de Recursos e Sul América Investimentos. O patrimônio alocado nos fundos ESG destas gestoras totaliza R$ 10,2 bilhões, representando 48,11% do mercado de fundos ESG, que está em R$ 21,2 bilhões. O gráfico 4 apresenta o patrimônio dos fundos ESG agrupado por gestoras de recursos.

Alocação de recursos

A distribuição dos ativos investidos por fundos ESG, conforme mostrado no gráfico 4, revela que quase metade do patrimônio está alocado em debêntures e depósitos a prazo em outros títulos de instituições financeiras, destacando a preferência por esses tipos de ativos. Fora estas preferências, é percebido que boa parte do recurso também possui alocação em cotas de fundos.

Debêntures

A debênture com maior proporção investida é a TBSP11 com 0,91%, seguida por CMGD19 com 0,67% e CSAN24 com 0,45%. Realizando o agrupamento por setor, o segmento de Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica lidera os investimentos dos fundos ESG com 9,06% dos recursos. A tabela 2 destaca os 10 principais setores de investimentos das debêntures contidas na carteira dos fundos ESG. A CMGD19 possui maior representatividade de alocação no setor de Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. As características cadastrais desta debênture apresentam um título não incentivado pela Lei 12.431/2011, seu índice de correção é DI + 2,05%, o vencimento previsto é 05/2026, e sua remuneração tem periodicidade semestral, sendo o pagamento dos proventos feito em maio e novembro ao longo dos anos. Até novembro/2024, acumula a quantia de R$ 130,01 paga por título e Dividend Yield de 12,16%. A taxa YTM considerando o último pregão (11/11/2024) foi 1,4295%. A tabela 3 apresenta as características individuais das 10 debêntures do setor de Locação de Automóveis com maior alocação dos fundos ESG.

Depósitos a prazo em outros títulos de instituições financeiras

Os ativos cadastrados como depósitos a prazo em outros títulos de instituições financeiras são letras financeiras, CDB’s, LCIs, entre outros títulos bancários. Nesta perspectiva, o Banco Bradesco possui 5,80% de investimentos, seguido do Banco Santander com 2,67%. Estes títulos são considerados de renda fixa e são negociados diretamente com a instituição bancária. A tabela 5 apresenta os 10 bancos com maior alocação de recursos dos fundos ESG na categoria de depósitos a prazo em outros títulos de instituições financeiras.

Performance

Desempenho deste o início

O maior retorno desde o início da constituição dos fundos na amostra foi do Santander Ethical Ações Sust Is FI com 777,34%. Este fundo pertence a classe de Ações, com gestão do Santander. O prêmio deste o início do fundo sob o CDI foi de -375,59% e sob o IBOV foi de -152,3%. A volatilidade do fundo deste o início registra 23,29%. Além de maior retorno, o fundo possui maior tempo de atuação. A tabela 6 apresenta os resultados dos 10 fundos com maiores retornos desde o início.

Alocação

A maior alocação destes fundos está em ações, seguidos de certificados ou recibos de depósitos de valores mobiliários. O gráfico 5, apresenta a proporção de alocação dos recursos destes fundos ESG por tipo de investimento. O ativo com maior investimento dos fundos ESG constantes nos fundos com maiores retornos desde o início é a Ação do Itaú com 4,50% de alocação, seguido da Copel com 4,13%.

Data base: Fev/2024

Maiores retornos dos últimos 12 meses

Em relação a janela de retorno de 12 meses, o fundo Blackrock FIA Globais Esg Ie obteve o maior retorno, sendo 59,09%. Gerido pela Blackrock Brasil, este fundo ESG possui 3,7 anos de atuação no mercado, pertencendo a classe de Fundo de Ações. O prêmio do fundo nos últimos 12 meses sob o CDI registra 48,15% de ganho, enquanto se comparado ao IBOV, registra 53,03% de desempenho superior ao benchmark. A volatilidade deste fundo nos últimos 12 meses totaliza 13,36%. A tabela 7 e o gráfico 6 apresentam os dados do Top 10 Maiores Retornos 12 meses.

Composição de carteira do Top 10 Maiores Retornos 12 meses

A maior alocação deste Top 10 é em investimentos no exterior, seguidos de cotas de fundos. O gráfico 7, apresenta a proporção de alocação dos recursos destes fundos ESG por tipo de investimento. O ativo com maior investimento dos fundos ESG constantes no Top 10 Maiores Retornos 12 meses é o fundo offshore Ishares Msci World com 99,85% de alocação, seguido do BNP Paribas Soberano II Fc FI RF Simples com 0,10%. A Tabela 8 apresenta os investimentos dos fundos ESG constantes no Top 10 Maiores Retornos 12 meses.

Metodologia

Utilizou-se os fundos das classes Anbima Ações, Cambial, Multimercados, Previdência e Renda Fixa. Além disto, consideramos não somente a classificação Fundo ASG S e Sim, que a própria Anbima disponibiliza, como também realizamos filtros para capturar fundos que continham ESG, ASG no nome.

Removemos a amostra dos fundos que não apresentaram patrimônio líquido (PL) em 31/10/2024, assim como aqueles que apresentavam mais de 50% do patrimônio investido em ativos geridos pela mesma empresa gestora. É importante destacar que o AUM (Ativos sob Gestão) sem dupla contagem foi calculado com base no percentual alocado na mesma gestora, considerando uma base de dados de fevereiro de 2024. O AUM é uma medida aproximada do patrimônio, utilizou-se como base de dados 31/10/2024 e foi eliminada a dupla contagem, com base na carteira de fevereiro de 2024.






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