Por Suelen Leal
A cotação do dólar norte-americano (USD) frente ao real brasileiro (BRL) e outras moedas globais reflete a interação de forças econômicas, políticas e sociais que influenciam a economia mundial. Ao longo das últimas décadas, o relacionamento entre o dólar e o real, assim como com outras moedas, tem sido marcado por períodos de estabilidade e volatilidade. Este estudo examina essa trajetória, classificando as moedas em quartis, apresentando rankings anuais de variação e analisando a volatilidade histórica, com destaque especial para o desempenho do real brasileiro.
Cotação do Dólar 2014 x 2024
Para entender as mudanças na cotação do dólar ao longo dos anos, comparamos sua posição frente a 27 moedas em dois momentos distintos: 2014 e 2024 (em 01/11/2024). Organizamos as moedas em 4 quartis, permitindo observar como a distribuição nominal dessas cotações se alterou em uma década.
Moedas como a Rúpia Indonésia, Peso Colombiano e Won Sul-Coreano mantiveram-se entre as moedas com maior discrepância cambial em relação ao dólar, ocupando o primeiro quartil tanto em 2014 quanto em 2024. O Peso Argentino, que em 2014 estava no terceiro quartil, passou a integrar o primeiro quartil em 2024, mostrando uma significativa desvalorização em relação ao dólar. As demais moedas mantiveram suas posições nos respectivos quartis, com a maioria apresentando um aumento na cotação. Assim como o Real Brasileiro, a maioria das moedas situou-se entre 1,00 e 100,00 na cotação frente ao dólar.
Embora algumas moedas tenham registrado variações expressivas, nenhuma delas, exceto o Peso Argentino, apresentou alteração suficiente para mudar de quartil.
Ranking Anual da Variação do Dólar Frente a 27 Moedas (2014-2024)
Classificamos a variação do USD em relação a 27 moedas ao longo dos últimos 10 anos, destacando a posição do dólar frente ao real. A observação dessa posição ao longo do tempo permite identificar tendências de valorização ou desvalorização relativa entre o dólar e essas moedas. Esse acompanhamento auxilia na compreensão da dinâmica das forças econômicas e dos riscos associados a cada moeda. Ao analisar essas posições históricas, é possível avaliar a estabilidade e a volatilidade das moedas. O Real Brasileiro, por exemplo, esteve entre as cinco moedas com maiores variações em 6 dos 11 anos analisados e apresentou apreciação frente ao dólar em três anos: 2016, 2022 e 2023.
Volatilidade histórica
Com base no ranking elaborado, é possível observar que a cotação do dólar frente ao real brasileiro apresenta alta volatilidade em determinados anos. Em linha com essa análise, examinamos a posição da volatilidade histórica do dólar em relação ao real em comparação com outras moedas.
Nos últimos 11 anos, a cotação do dólar frente ao real se destaca como a quarta mais volátil, superada apenas pelo Peso Argentino, Rublo Russo e Lira Turca.
Análise das Cotações Máximas
Algumas moedas estão atualmente em sua pior performance histórica em relação ao dólar americano. Listamos a cotação máxima já alcançada pelo dólar frente a essas moedas nos últimos 10 anos, indicando o ano em que esse valor foi registrado e o percentual que a cotação atual representa em relação a essa máxima histórica.
Algumas moedas estão atualmente em suas cotações máximas com relação ao câmbio do dólar, ou próximas disso, como é o caso do Peso Argentino, da Rúpia Indiana, da Lira Turca e do Rial Saudita. No caso do real brasileiro, o dólar Ptax encerrou o levantamento em 5,81, atingindo 97,8% da máxima histórica de 5,94 registrada em 14/05/2020. Esse patamar ressalta a vulnerabilidade de algumas economias frente a pressões externas e instabilidade cambial.
A variação cambial é tão importante quanto a inflação interna dos países, especialmente nos mercados emergentes, onde essas métricas tendem a ser mais voláteis e interconectadas. Ambas afetam diretamente o custo de vida, as despesas empresariais e o comportamento dos investimentos, influenciando decisões estratégicas para indivíduos e empresas.
O Brasil teve uma variação de inflação de 72,3% e uma desvalorização cambial de 118,6% frente ao dólar no acumulado dos últimos 10 anos. Esse aumento na inflação, combinado com uma desvalorização significativa da moeda, reflete um período de instabilidade econômica, embora em uma escala muito menor comparada à Argentina.
A Argentina, que merece uma análise separada devido à sua escala distinta, apresenta uma variação extremamente alta tanto na inflação (12.590,9%) quanto na cotação do dólar (11.508,4%). Esse aumento expressivo em ambos os indicadores reflete uma economia altamente instável, marcada por uma inflação galopante acompanhada de uma forte desvalorização da moeda local em relação ao dólar.
A inflação no Chile subiu 16,8% em 10 anos, enquanto o câmbio do dólar aumentou 56,6%. Esse descompasso indica que, embora a inflação tenha sido relativamente contida, a moeda chilena sofreu uma forte desvalorização frente ao dólar.
A Colômbia teve uma inflação de 74,6% e uma desvalorização cambial de 84,3% frente ao dólar. Esses valores próximos indicam uma relação mais direta entre a inflação e o câmbio, com ambas as métricas refletindo pressões inflacionárias e cambiais equilibradas.
A inflação no México foi de 56,1%, enquanto o câmbio do dólar subiu 36,3%. Esse cenário sugere que o peso mexicano teve uma desvalorização menor em comparação com a inflação, o que pode indicar um controle cambial mais eficaz ou um fortalecimento relativo da economia frente ao dólar.
O Peru apresenta a menor variação tanto na inflação (30,6%) quanto no câmbio do dólar (26,5%) entre os países analisados. Isso sugere uma estabilidade econômica relativamente maior, com um controle mais eficaz sobre a inflação e o câmbio ao longo da última década.
Variação histórica anual da cotação do dólar frente ao real
Ao longo dos últimos 30 anos, a variação do câmbio do dólar no Brasil exibiu uma ampla gama de resultados, com períodos de expressivo aumento e outros de retração. Em grande parte desse período, o dólar se valorizou frente ao real — especificamente em 20 dos 30 anos analisados. Em 2024, a moeda brasileira enfrenta novamente um período desafiador, com o segundo maior aumento cambial do ano, alcançando 19,95%, o que representa o terceiro maior aumento dos últimos 10 anos e o sexto maior dos últimos quase 30 anos. Cada governo pode apresentar abordagens diferentes em termos de política fiscal, monetária, de comércio exterior e de investimentos, todas afetando a confiança do mercado e a estabilidade econômica. Esses fatores refletem na taxa de câmbio, seja promovendo estabilidade ou volatilidade. Agregamos os presidentes em exercício na análise da variação anual do câmbio para possibilitar entender como políticas econômicas, decisões de governo e crises políticas específicas impactam a valorização ou desvalorização da moeda.
A dinâmica entre o dólar e o real é marcada por ciclos de apreciação e depreciação, com o dólar se mostrando uma moeda de refúgio em tempos de incerteza. A tendência de alta volatilidade e de apreciação do dólar frente ao real reflete a estrutura econômica brasileira e as vulnerabilidades de um país emergente. Para o Brasil, a estabilidade do câmbio dependerá de políticas econômicas sólidas, controle inflacionário e reformas estruturais que reduzam a exposição a crises internas e externas. Para investidores e empresas, acompanhar a dinâmica do dólar em relação ao real é essencial para uma gestão eficaz de riscos e planejamento financeiro.
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