O Elo entre Crédito Corporativo e Fundos de Investimento: Uma Radiografia das Maiores Emissões no Brasil

Por Suelen Leal

Nos últimos anos, o mercado de debêntures no Brasil consolidou-se como uma das principais alternativas de captação de recursos pelas empresas e de alocação de capital pelos fundos de investimento. Em um ambiente de juros elevados, avanços regulatórios e forte demanda por ativos de renda fixa, compreender os fluxos de emissão e alocação dessas dívidas corporativas se torna cada vez mais estratégico. Este estudo tem como objetivo iluminar esse elo entre quem emite e quem compra debêntures, analisando o que movimentou o mercado em 2024 e 2025. A seguir, você encontrará uma visão clara sobre os maiores emissores, setores predominantes, as gestoras com maior participação e os papéis mais demandados.

Panorama recente de emissões de debêntures

O período recente foi marcado por uma forte movimentação de empresas buscando financiamento via mercado de capitais. Empresas de infraestrutura, energia e telecomunicações dominaram esse movimento, refletindo a natureza de longo prazo e previsibilidade desses setores.

Destaques:

  • Auren, Cia Hidroelétrica São Francisco e Cielo lideram as emissões, com volumes superiores a R$ 4 bilhões;
  • Setores como eletricidade, gás e água, transporte por tubos e telecomunicações concentram as maiores captações;
  • Debêntures incentivadas (Lei 12.431) seguem relevantes, sobretudo em projetos de infraestrutura;
  • A Vale, a Suzano e a Eurofarma também figuram entre os principais emissores, demonstrando diversificação setorial.

Empresas com maior volume de emissão

Ao analisar com o foco para as empresas que mais recorreram ao mercado, a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) lidera com mais de R$ 10 bilhões emitidos. Também se destacam Sabesp, Auren e Rede D’Or, sinalizando o apetite por financiamento em setores como saneamento, energia e saúde.

Destaques:

  • Nova Transportadora do Sudeste S/A (NTS) lidera com R$ 10,75 bilhões em emissões, representando 3,5% do total do mercado;
  • Sabesp, Auren e Rede D’Or também aparecem entre as principais emissoras, refletindo forte demanda por recursos para infraestrutura e expansão;
  • Empresas de setores diversos como energia, saúde, logística, indústria, papel e celulose, telecomunicações e commodities marcam presença no ranking;
  • As 20 maiores emissoras somam mais de R$ 118 bilhões, o que representa 39% do total de debêntures emitidas no período.

Setores mais representativos

A dominância do setor de eletricidade, gás e água é inquestionável, com mais de R$ 121 bilhões captados, representando 40,5% do total emitido.

Essa composição revela um perfil de emissões concentrado em setores essenciais e defensivos, que tradicionalmente atraem os investidores por sua resiliência e previsibilidade de receitas.

Destaques:

  • Setor de eletricidade, gás e água domina com folga o mercado, concentrando 40,5% do volume total emitido — mais de R$ 121 bilhões captados;
  • Infraestrutura e serviços essenciais aparecem logo atrás, com destaque para:
    • Atividades auxiliares ao transporte: 6,6%
    • Saúde: 4,7%
    • Transporte por tubos: 4,6%
    • Telecomunicações: 4,5%
  • Outros setores relevantes incluem locação e leasing, comércio atacadista, papel e celulose, mineração e educação.

Os principais compradores: fundos de investimento

A Itaú Asset Management e Itaú Unibanco SA lideram somando mais de R$ 6,9 bilhões investidos, seguidas pelo Bradesco, Santander, Safra, BB DTVM e BTG Pactual. Somadas, as 20 maiores gestoras representam 95% da alocação nos papéis mais comprados – uma concentração relevante que indica confiança institucional nas emissões analisadas.


Heatmap das debêntures mais encarteiradas x gestores alocados
A tabela a seguir detalha o volume alocado por cada gestora nas 20 debêntures mais adquiridas por investidores institucionais, permitindo a análise do nível de concentração ou diversificação dessas alocações entre os principais papéis do mercado.

Destaques:

  • CHSF13, ECOV16 e CESE32 lideram em volume alocado — juntas somam mais de R$ 6,7 bilhões;
  • Itaú Unibanco Asset Management, Bradesco, Santander, Safra Wealth e BTG Pactual são os maiores alocadores;
  • O volume total investido pelas 20 principais gestoras nessas debêntures supera R$ 20,5 bilhões, representando mais de 95% do total encarteirado nos ativos destacados.
  • CHSF13, com alocação expressiva em Itaú, Bradesco, Santander e BTG, mostra alta aceitação de risco e atratividade de spread.
  • CESE32 e CLCD27 são exemplos de debêntures encarteiradas por diversas gestoras, o que sugere elevado grau de liquidez e confiabilidade no perfil da emissão.
  • Debêntures como RUMOB7, VLIM15 e MRSAB2 têm menor volume, mas mostram diversificação tática por parte de gestoras menores ou mais especializadas.

Relação alocação dos fundos x características das emissões

Destaques:
As debêntures com maior volume alocado pelos fundos, tanto em valor quanto em representatividade percentual sobre a emissão, são:

  • CHSF13 – Cia Hidroelétrica São Francisco
    • Volume alocado: R$ 3,85 bilhões
    • Representa 78,6% da emissão total
    • IPCA + 6,7670%
  • ECOV16 – Ecovias dos Imigrantes
    • Volume alocado: R$ 1,55 bilhão
    • 95,2% da emissão total
    • IPCA + 6,0950%
  • CESE32 – Celse (Centrais Elétricas de Sergipe)
    • Volume alocado: R$ 1,54 bilhão
    • 85,5% da emissão
    • IPCA + 7,4941%

Esses papéis mostram forte concentração institucional e são considerados atrativos para alocação por sua liquidez e prêmios acima da média.

Relação entre fundos e volume da emissão

A grande maioria dos papéis listados tem mais de 70% do volume total da emissão alocado por fundos, com destaque para:

  • CEEBB6 – Coelba: 89,6%
  • ALUP18 – Alupar: 89,9%
  • CLCD27 – Celesc Distribuição: 89,1%
  • MRSAC2 – MRS Logística: 75,5%
  • VLIM15 – VLI Multimodal: 80,6%

Isso reflete uma alta penetração institucional nas ofertas e um sinal de confiança nas emissões.

Setores mais representados entre as debêntures mais compradas

  • Empresa de eletricidade, gás e água domina com 10 das 20 debêntures mais alocadas.
  • Outros setores presentes:
    • Transporte ferroviário
    • Atividades auxiliares ao transporte
    • Agricultura
    • Indústria de papel
    • Transporte e armazenamento

Esse perfil setorial mostra um viés defensivo e de infraestrutura, o que sugere preferência dos gestores por papéis ligados a serviços essenciais e de longo prazo.

Características das emissões mais compradas

  • Tipo de debênture predominante: IPCA + spread.
  • Todas as emissões listadas são incentivadas (Lei 12.431), com isenção de IR para PF.
  • Espécie: Quase todas são quirografárias, com exceção de algumas com garantia real (ex: EKTT11, CRTR12).

O mercado de debêntures brasileiro vive um momento de maturidade e sofisticação. A análise dos dados de 2024 e 2025 revela um ambiente dinâmico, no qual empresas de infraestrutura, energia e serviços essenciais lideram a captação de recursos, enquanto fundos de investimento consolidam seu papel como os principais compradores.
A ponte entre emissores e investidores se fortalece, ancorada na demanda por renda fixa privada e no apetite por ativos que combinam segurança com retornos reais atrativos. Esse cenário reforça a importância estratégica da atuação dos grandes bancos e gestores, cuja capacidade de alocação define, em grande medida, o sucesso das emissões e a viabilidade dos projetos financiados. A dependência das empresas por esse capital institucional torna ainda mais relevante o monitoramento das decisões de investimento dos principais players do mercado.
Essa radiografia deixa claro: entender a movimentação entre crédito corporativo e alocação de fundos é essencial para quem quer decifrar os próximos passos do mercado de capitais brasileiro.

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